A cerimónia solene dos 51 anos do 25 de Abril, realizada esta quinta-feira na Assembleia da República, foi profundamente marcada pela notícia da morte do Papa Francisco. Num raro momento de consenso político, todos os partidos representados no Parlamento elogiaram a figura do Pontífice falecido na segunda-feira, dia 21, reconhecendo nele “um exemplo de serviço, humildade e defesa dos valores universais da dignidade humana”.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, usou o seu discurso para estabelecer um elo entre os ideais da Revolução dos Cravos e o legado do Papa. “25 de Abril sempre? Sim, sobretudo, se com a incessante busca dos valores, o pleno e descomplexado abraço a todas as pessoas e a atenção a todas as coisas e a radical humildade que viveu e nos ensinou a viver Francisco”, afirmou.
No seu último 25 de Abril como chefe de Estado, Marcelo sublinhou a atualidade dos valores de Abril — paz, justiça, liberdade, igualdade e fraternidade — e destacou como esses mesmos princípios marcaram o pontificado de Francisco. “Como não deparar, nas palavras de Francisco, com a defesa desses valores estropiados há 50 anos?”, questionou.
O momento solene contou com a aprovação unânime de um voto de pesar e um minuto de silêncio em memória do Papa, cujo funeral se realiza este sábado.
O presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, recordou Francisco como “um bom amigo de Portugal”, destacando as suas duas visitas ao país e a criação de quatro cardeais portugueses.
O voto de pesar relembrou também o impacto das encíclicas sociais e ecológicas do pontífice, a sua denúncia da “guerra mundial em pedaços” e a coragem com que defendeu os mais vulneráveis, reformando mesmo o catecismo da Igreja para condenar a pena de morte sem excepções.
“Criou pontes, ouviu as periferias, elevou a política como forma de caridade”, destacou Aguiar-Branco. “O seu legado continuará a iluminar os caminhos da paz e da justiça, num mundo que dele tanto precisa.”
Num Parlamento dissolvido, em vésperas de eleições legislativas, os discursos deste 25 de Abril mostraram um raro tom de união em torno de uma figura global — um momento que o Presidente da República não quis deixar passar: “Aprendam com o Papa.”
A sessão solene do 51.º aniversário da Revolução dos Cravos aconteceu num momento em que o País cumpre luto nacional pela morte do Papa.
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*com Agência Ecclesia