Por entre sorrisos de confiança e aplausos entusiásticos, Ricardo Marques oficializou a sua recandidatura à presidência da Junta de Freguesia de Benfica. Numa apresentação marcada pela emoção, balanços positivos e visão para o futuro, o autarca afirmou estar pronto para continuar a transformar a freguesia.
Ontem, sexta-feira, no Jardim do Palácio Baldaya, onde o verde dos jardins não deixou perceber o vermelho dos socialistas, Ricardo Marques oficializou a sua recandidatura à presidência da Junta de Freguesia de Benfica. O ambiente era de festa, mas também de mobilização — porque a batalha autárquica, por mais local que seja, traz ecos maiores. E Ricardo Marques sabe disso, e prepara-se para jogar com todas as cartas.
E o evento começou bem, alegre e divertido, com um momento musical protagonizado por Pedro Maldito, que arrancou sorrisos com a convicção: "Sempre que canto, o PS vence."
Um percurso enraizado na freguesia
Ricardo Marques, de 46 anos (completa 47 a 15 de Setembro), é licenciado em História e autarca desde 2013. Assumiu a presidência da Junta de Freguesia de Benfica em Fevereiro de 2020, após a renúncia de Inês Drumond, e foi eleito presidente em 2021 com 40,73% dos votos.
Também deputado municipal, integrou as 7.ª e 8.ª Comissões Permanentes, nas áreas da Cultura, Educação, Juventude, Desporto, Transportes, Mobilidade e Segurança, aprofundando a sua ligação às necessidades e dinâmicas da cidade.
Final de tarde quente e espaço completamente lotado — um sinal claro de que a campanha já mexe, e de que o atual presidente da Junta entra na corrida com forte respaldo popular. Estiveram presentes figuras de peso do PS lisboeta, desde a candidata à Câmara, Alexandra Leitão, ao presidente da concelhia socialista, Davide Amado. Mas também uma presença com valor simbólico: Inês Drumond, a ex-presidente que, em 2020, passou o testemunho a Ricardo Marques, hoje cabeça de cartaz de uma coligação alargada à esquerda.
Uma coligação para... "Viver Lisboa"
O momento político foi bem aproveitado. Ricardo Marques não se limitou a apresentar obra feita — e é extensa, da habitação à mobilidade, da juventude à sustentabilidade. Enquadrou a recandidatura num projeto mais amplo: a coligação “Viver Lisboa”, que junta PS, Bloco de Esquerda, Livre e PAN. Uma frente “progressista, humanista, inclusiva, sem ódio” como lhe chamou, que pretende não apenas reforçar a governação local, mas marcar posição estratégica. Contra a atual liderança de Carlos Moedas na Câmara de Lisboa?
“A Lisboa de Carlos Moedas é uma Lisboa adiada”, acusaria Alexandra Leitão, adversária de Moedas na corrida ao município, sublinhado a ideia de que Benfica é exemplo do que se pode fazer quando há visão e compromisso. O recado não podia ser mais claro: esta campanha local serve também como prenúncio do confronto entre dois modelos para a cidade.
Ricardo Marques foi ainda mais directo ao afirmar que, embora tenha mantido uma “excelente relação institucional” com Moedas, quer ver Alexandra Leitão eleita. E mais tarde, À Ràdio Amparo, atirou com ironia política: “Depois irei beber um copo com o amigo Carlos Moedas.”
De freguesia a cidade: o legado e a ambição
A intervenção de Ricardo Marques foi marcada por um discurso seguro, com balanço positivo do mandato e olhos postos no futuro. Destacou o grande projeto da Residência Universitária no Bairro do Calhariz, as casas construídas e entregues, os corredores verdes previstos, a modernização dos serviços e a projeção de Benfica enquanto “cidade dentro da cidade”.
“Somos uma freguesia com um orçamento de 50 milhões de euros — isto é governação a sério”, afirmou, num sublinhado de que a Junta já deixou de ser vista como mera estrutura administrativa de proximidade para se tornar um microcosmo de governação urbana moderna.
O executivo contará com duas novas caras, numa lógica de continuidade com renovação. “Em equipa que ganha, também se mexe”, disse, frisando que a entrada de sangue novo será uma mais-valia.
Entre farpas e elogios: política a sério em Benfica
Inês Drumond foi a memória viva do percurso de Ricardo Marques — “um freguês chato, cheio de ideias”, que o tempo transformou num líder com visão e capacidade de execução. Mas também ela aproveitou para deixar uma farpa ao atual presidente da Câmara: “Arrastou os pés e desbaratou um orçamento.”
Foi uma sessão cheia de simbolismo político: da juventude às causas sociais, da habitação à cultura, os mandatários da candidatura personificaram as várias dimensões do projeto político de Ricardo Marques. Entre os nomes: Teresa Damásio (Assembleia de Freguesia), Liliana Marques (Juventude), Joaquim Santinhos (Comércio Local), Maria José Rebelo (Idade Maior), Manuel Esperança (Educação) e Margarida Moreira (Cultura e Igualdade).
Benfica como laboratório político
Mais do que uma mera apresentação de recandidatura, este foi um momento de afirmação política. Ricardo Marques surge como um dos principais rostos do PS a nível local, liderando uma coligação alargada, com apoio popular robusto e uma obra feita difícil de ignorar. Benfica pode não ser Câmara, mas é território estratégico, e Ricardo Marques joga com isso.
Assume sem receios que governará com ou sem maioria — sinal de maturidade política — mas tudo indica que procura mais: um mandato forte, com uma maioria sólida, e com impacto político em Lisboa e além dela.
As autárquicas estão oficialmente em marcha. E em Benfica, há muito mais do que uma Junta em jogo.